segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O Infarmed visto por um munícipe ou por um cidadão

Conheço o Dr. Adalberto Campos Fernandes (ACF) e a Dr.ª Maria de Céu Machado (MCM). O ministro e médico melhor do que a médica, com quem conversei certa vez após uma conferência-debate na Ordem dos Médicos. Sabia, mas o diálogo serviu para confirmar que MCM, em termos de conhecimento de políticas de saúde, transcende em muito os limites da pediatria, sua especialidade.
O ‘Público’, na página ‘online’, públicou com destaque duas manchetes, esta e esta, relativas a entrevista à Dr.ª Maria do Céu Machado, pelas jornalistas Alexandra Campos e Ana Maia.
Em relação à primeira peça das entrevistas, sob o título ‘Ministro disse que a mudança do Infarmed era uma “intenção”, não uma decisão’, a argumentação, a defesa do estatuto científico e a estratégia em curso da instituição constituem testemunhos evidentes do mérito da Dr.ª Maria do Céu Machado no desempenho do cargo de Presidente do Infarmed, nomeada, precisamente, pelo Dr. Adalberto Campos Fernandes. 
O ministro nem sequer deveria ter sonhado com a mudança em causa, quanto mais intencionado. A excelência dos serviços na acção da política do medicamento em Portugal e os compromissos internacionais a que o Infarmed está vinculado não se compadecem com decisões populistas (isto, sem contar com os danos causados pela destruição de uma equipa bastante qualificada, a que se juntam outros causados aos trabalhadores da instituição).
Relativamente à segunda peça jornalística, ‘Espanta-me que a Câmara de Lisboa não tenha medo de perder o Infarmed’, discordo da surpresa da Dr.ª Maria do Céu Machado. Acima dos mesquinhos interesses locais, de câmara, freguesia ou paróquia, está o interesse público nacional e este é tema do poder central. Ignoro a razão por que Fernando Medina ficou calado. Se foi por ser portuense, está errado. Como edil, a única atitude correcta é ficar calado. A excessiva exposição pública de Rui Moreira sobre tal matéria, essa sim, é tacanha e incorrecta.
O interesse nacional, em termos de saúde pública e de outros domínios de relevância para o todo da população portuguesa, não deverá confinar-se à disputa entre Lisboa e Porto. E descentralizar apenas tem sentido na óptica de todo o território do País – veja-se o problema dos incêndios e da desertificação e envelhecimento no interior. Mudar a localização do Infarmed não é uma questão de munícipes e municípios, mas sim de cidadãos e de cidadania.

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