segunda-feira, 17 de julho de 2017

A minha estupefacção

Tenho apreço pelo Dr. Seixas da Costa. Sou leitor do seu blogue, 'duas ou três coisas'. Normalmente, concordo com os conteúdos publicados.
Todavia, há sempre excepções, no que respeita a regras e opiniões. E, por via da excepção, não poderia estar mais em desacordo com o conteúdo do  'post', publicado em 14-Julho, sob o título 'Perplexidade'.
Convirá sublinhar que as nossas carreiras profissionais tiveram percursos muito distintos. O Dr. Seixas da Costa foi Embaixador, moveu-se naturalmente em ambientes da diplomacia e, ao que parece, é intransigente no princípio do 'politicamente correcto'. Eu percorri um caminho mais frugal, entre operários e engenheiros, em unidades fabris; por inerência de funções no comércio internacional, corri mundo a promover exportações de vidro em chapa e transformado da Covina, hoje Saint-Gobain Glass, e de produtos de higiene pessoal e de limpeza das empresas Sonadel e Uniclar, do ex-grupo CUF/Quimigal.
Sucedeu que, detidas por IPE e Quimigal, as três sociedades foram privatizadas por alienação a grupos estrangeiros. A Covina à Saint-Gobain e a dupla Sonadel-Uniclar à Colgate. Consequências: a ex-Covina actualmente não passa de um entreposto da Saint-Gobain, a funcionar com menos de três dezenas de trabalhadores; por outro lado, Sonadel e Uniclar desapareceram como sociedades industriais e comerciais, embora as suas marcas continuem a ser comercializadas em Portugal - ao ler um invólucro do sabonete 'Feno de Portugal', da ex-Uniclar, depara-se com a menção 'Fabricado na EU / (Alemanha)'.
Ainda no domínio das consequências a nível da Economia Portuguesa, deverá sublinhar-se que as referidas alienações, como outras, contribuíram para diminuições do PIB, eliminação de centenas de postos de trabalho e de exportações, aumentando importações e remunerações (dividendos) de capitais externos.
O que acabei de descrever é suficientemente elucidativo, julgo, dos resultados de certas operações de IDE - Investimento Directo Estrangeiro; várias das quais, como é notório, se vêm a revelar adversas para o interesse nacional. É natural, portanto, a minha estupefacção perante críticas às declarações de António Costa na AR - debate do Estado da Nação - que, instado a pronunciar-se pelo PCP, acusou a PT/Altice de grave incumprimento na prestação de serviços de telecomunicação na 'Tragédia de Pedrogão'; prestação a que está vinculada pela PPP no âmbito das obrigações do SIRESP.
O tempo correrá e estaremos cá para ver o que, na PT e na Media Capital, a Altice vai fazer. Certamente dinheiro, muito dinheiro, com pesados prejuízos para Portugal e portugueses, prevejo.
Muito mais haveria para dizer, mas fico-me por este esclarecimento: não sou militante de qualquer partido, nem apoiante incondicional de António Costa.

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