sábado, 31 de dezembro de 2016

‘Réveillon’ da Sociedade Recreativa e Musical de Ribeira dos Olivais

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Um optimista deve ser realista. Nos contactos sociais, no ‘Facebook’ e nas redes sociais em geral, predomina a frase Bom Ano de 2017. Desejos e votos são generalizados. As heranças de 2016 – Síria, mortes no Mediterrâneo, atentados, eleição de Trump, ameaças de acesso da xenofobia ao poder em eleições na Europa, incremento, em relação a 2015, de 237 mil milhões de dólares das fortunas de umas dezenas dos multimilionários do planeta … - as heranças de 2016, dizia, são tão onerosas e consistentes que me deixam céptico quanto a 2017.
Efectivamente, é imperioso interrogar de que milagre a humanidade beneficiará, de modo a que, à meia-noite de todos os países à volta do Planeta, em uníssono, possam vir a desfrutar da maravilhosa melodia de que, em 1 de Janeiro de 2017, desponta um novo e feliz Mundo? Os mais frágeis do mesmo Mundo (crianças, mulheres, idosos, em especial) continuarão a ser vítimas, aos milhões, à volta da Terra. É a minha convicção, por muitos fortes e sentidos que sejam os desejos de um ‘Bom Ano’.
Sem esquecer os sofrimentos no Oriente longínquo, do Médio-Oriente e nas consideradas potências Ocidentais, entendo que, nada de novo e influente na melhoria das grandes causas humanitárias, se modificará. Optimista contrariado, penso: 2017 será certamente pior ou no mínimo igual a 2016.
Tenho, pois, de conformar-me ao refúgio da pequena vila onde faço a passagem de ano. Uma comunidade de 1.500 pessoas, na estrondosa maioria de idade avançada. Sem pensar nas ralações e infortúnios do dia-a-dia, vividos com tristeza, reencontram a alegria no Réveillon da Sociedade Recreativa e Musical de Ribeira dos Olivais.
Há baile, petiscos e copos. As senhoras, numa noite em trezentas e sessenta e quatro, vestem os vestidos de tafetá, carregados de naftalina, e envolvem-se em ‘écharpes’ de tule. Vestuário do tempo de jovens mães, quando baptizaram os filhos. Eles, de fato e gravata, usam pela enésima vez a indumentária ancestral com que se divertiram em festas de há muitos anos; os tecidos estão puídos, tão brilhantes como os sapatos engraxados.
O ano novo, para esta gente, cinge-se à felicidade de vestir estes trajes e dançar ao som de um quinteto designado ‘Os Rapazes da Rádio’ que é composto por sexagenários. Bailam ao ritmo de tangos, boleros, música portuguesa dos anos 1950 e 1960 e ainda melodias dessa época em inglês e italianas de Marino Marini (‘La Piu Bella del Mondo’, ‘Quando, Quando, Quando’ e outras que a intemporalidade da música exige serem perenes). O vocalista, claro, canta num género de inglês e italiano muito abaixo do que se considera macarrónico.
Entre as festividades institucionais, decoradas de fogo-de-artifício e de falsas promessas de um Mundo melhor, do Terreiro do Paço à Times Square, o Réveillon da Sociedade Recreativa e Musical de Ribeira dos Olivais é mais realista: esta noite vamos gozá-la, o ano que entra vamos sofrê-lo.  

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Défice de 2016, a sofrida frustração da direita neoliberal

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A fim de ser o mais sintético possível, sem, contudo, evitar um texto demasiado árduo pela aridez própria da linguagem económica, decidi fragmentar este ‘post’ em diversas partes.


1)      Contas do 3.º Trimestre de 2016
O INE publicitou aqui que o défice a reportar a Bruxelas, no fim do 3.º T de 2016, foi de 2,5%, calculado na óptica de ‘contabilidade nacional’ exigida pelo Tratado de Maastricht – esta funciona num sistema para a análise e avaliação macroeconómica, no qual é necessário usar um conjunto de contas articuladas que pretendem representar e quantificar todas as actividades económicas do país realizadas durante um período de tempo. Há uma ilação a extrair do citado défice de 2,5%
- é mais baixo 0,9% do que os 3,4% atingidos no período homólogo de 2015 pelo executivo PSD+CDS;
2)  Execução orçamental de Novembro de 2016
A DGO divulgou há dias a execução orçamental de Novembro/2016.  À partida há que sublinhar que os valores, neste caso, são calculados na óptica de ‘contabilidade pública’, segundo a valorização de entradas e saídas de fundos públicos (óptica de tesouraria). Julgo ainda útil adiantar algumas observações:
- o saldo das Administrações Públicas (AP’s) foi de – 4336 milhões de euros o que compara com - 4730 milhões de Nov-2015;
- o ‘saldo primário’ (saldo sem juros) melhorou para 3430 milhões de euros dos 2716 milhões registados em Nov-2015;
- a receita cresceu apenas 1,9% contra os 4,9% previstos no OGE 2016; ao passo que a despesa aumentou somente 1,3% face ao incremento previsto de 5,7%.
3) Investimento público
O investimento público (Formação Bruta de Capital Fixo) situou-se num nível muito baixo – a despesa de capital foi apenas 1% do PIB.
Nesta área, a direita ganha folgo para agressivas críticas. Esquece-se propositadamente do enorme desinvestimento público do executivo PSD+CDS, através da alienação de empresas, algumas estratégicas, que eram activos valiosos do Estado. Cito apenas ANA, CTT e EDP. Nesta última, informava hoje a SIC, já se registou uma retirada de dividendos de 700 milhões pelos chineses que participam no capital.
4) A comunicação social de direita – o ‘Observador’
Neste artigo no ‘Observador’, Ricardo Santos, revelando uma sede de vingança política e uma fragilidade confrangedora de conhecimentos de economia, logo no 1.º parágrafo, começa por colocar no mesmo plano os dados do INE e da DGO. Calinada! Acima demonstrei que as contas doo INE são calculadas em ‘contabilidade nacional’ e as da DGO em ‘contabilidade pública’. Compará-las, de forma ligeira, é erro grave.

sábado, 24 de dezembro de 2016

O provincianismo do Tavares, escriba do ‘Público’

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Tavares é de Portalegre. E Portalegre, claro, não tem culpa. Todavia, tem de reconhecer-se que, nas mais diversas localidades, há os filhos da terra que tanto podem manchar como prestigiar a cidade, vila ou aldeia onde vieram ao mundo. Exemplos muito claros: um indivíduo tanto pode associar Arouca a actos cometido por um cidadão da burguesia local, como em relação a outro de origem diferente, mesmo migrando para a capital, constatar que não logra dissociar-se do provincianismo que lhe está plasmado na pele e inculcado no cérebro, tornando-se promotor da má imagem da sua própria terra.
J. M. Tavares é daqueles jornalistas que, embora estudando em Lisboa, jamais se emancipou da tacanhez e do provincianismo. É de direita, opção que, no plano dos direitos humanos e da cidadania, qualquer democrata sério respeita.
No entanto, como jornalista que diz que é, deveria esforçar-se para se libertar do papel de provinciano, no estilo de intriga pessoal predominante nos artigos que publica no jornal ‘Público’. É incapaz de escrever sobre temas importantes e objectivos, acantonando-se na prosa subjectiva que visa sempre atingir ostensivamente alguém de esquerda.
A falta de imparcialidade de Tavares, desta vez, escolheu como visados Inês Pedrosa e António Guterres, ambos afectos ao PS.
O que leva Tavares a injuriar apoiantes da escritora? Não o facto de Inês Pedrosa estar a ser acusada pelo Ministério Público por abuso de poder na direcção da Casa de Fernando Pessoa; isto é já matéria de processo judicial em curso. Foi o facto de, em solidariedade com Inês, ter havido a iniciativa de 38 seus amigos do meio cultural subscreverem uma carta aberta em defesa da honra da escritora – entre os subscritores constam figuras destacadas da literatura e da música - Eduardo Lourenço, Tolentino Mendonça, Francisco José Viegas, Lídia Jorge e Sérgio Godinho, entre outros.
Em relação a António Guterres, considera igualmente crime que a AR tenha atribuído o prémio Direitos Humanos de 2016 ao novo Secretário-Geral da ONU (25.000 euros), o qual só poderia ser concedido a quem tivesse tido actividade numa ONG. Como esta condição não foi preenchida, e sem tomar em conta que António Guterres será o primeiro português a ocupar o mais alto cargo a nível da ONU, o juiz Tavares acusou a AR de acto de criminoso. Desvalorizou completamente o facto do homenageado ter passado de imediato, em minutos, o prémio a uma senhora de uma organização humanitária.
Quando um escriba de jornal inventa estes falsos crimes em relação a figuras de esquerda, nunca se empenhando em investigar por que razão outros processos judiciais que envolvem gente de direita estão paralisados (BPN, por exemplo), fica bem claro que, por doentio sectarismo, é incapaz de cumprir a missão de informar e opinar a preceito e com respeito pela deontologia da profissão. Tavares não consegue, de facto, ultrapassar a dimensão do provinciano, entretido com sarilhos que preenchem as conversas de café da pequenez de carácter.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O Natal e o Ano Novo

Menino refugiado e morto nas praias da Turquia
Rejeição. Reacção de velhice? Responderia afirmativamente, se, para mim, estes rituais de Natal e Novo Ano não fossem acontecimentos penosos e hipócritas desde criança. 
Cada criança tem as condições de vida com que vem ao mundo. Nem todos nascemos e começámos a gatinhar sob o consolo  de vida fácil e feliz dos pais.
Faço parte do ‘baby boom’ após a II Guerra Mundial. Tempos difíceis na Europa, agravados em Portugal por um nefasto Salazarismo que, de tão nacionalista e fascista, renunciou o ‘Plano Marshall’ e a qualquer iniciativa a fim de integrar e desenvolver o País em termos socioeconómicos dentro da dinâmica europeia.
O meu Natal de infância, como o de milhares de crianças (ou milhões?) portuguesas, reduziu-se a uma modesta ceia, em cenários de brinquedos de lata. Em noites vividas sob a crueldade do frio e da tristeza, mascaradas de falsa euforia e vestidas de roupas e agasalhos que nos abrigavam desse frio em casas antigas, sem caloríferos e muito menos ar condicionado.
As crianças de Aleppo, a viver profundas desgraças que a Rússia, o Ocidente e o negócio de armas não dispensa – o Reino Unido há dias era assinalado como o principal fornecedor – sofrem (e muitas morrem) atrocidades e desprezo repugnáveis, das quais ninguém tem coragem de descrever e acusar com precisão os responsáveis, quanto mais combater com empenho.
Quando este ano, e em mero cumprimento de ritual repetido, mais do que em anos anteriores, a alegria de distribuir prendas e brinquedos aos meus netos tomar-se-á muito mais mitigada pela tristeza e não passará de uma encenação de actos que, no fundo, não sinto.
Eles, como outros filhos e netos, não têm a menor das culpas. Mas mulheres e homens influentes na Europa, de Schäuble a Hollande, de Dijsselboem a Merkel, de Marine Le Pen a Wilders, de Rajoy a Theresa May e muitos mais da Comissão e do Conselho Europeu, deveriam ter um Natal com fome e um 2017 cheio de privações. Assim, talvez sentissem a dureza da vida de desempregados, precários de trabalho e outros desvalidos que a profunda desigualdade de rendimentos aprofunda. Bem como as crianças dessas famílias.
O estado a que o mundo chegou, ilustrado pela fotografia deste ‘post’, deixa-me uma tristeza indescritível e apenas uma palavra de enorme estima e admiração pelo Papa Francisco, como homem e líder da ICAR. Tão célere não terá outro. No entanto, ele pouco pode fazer, a não ser denunciar tamanha barbaridade. E os obstáculos começam nesse antro de pedófilos e corruptos que é o Vaticano da IGOR. 
Por último, e sem hipocrisia, resta-me desejar Bom Natal e um Novo Ano Feliz a todos os que ainda acreditam, o que não é o meu caso.


domingo, 18 de dezembro de 2016

Sátira e metáfora de George Orwell e as realidades da vida

O ‘poder’ e as manobras descritas por Orwell a propósito do Estalinismo denunciam as astúcias de acesso e exercício de mandar.
Conquistar o poder e satisfazer ambições socioprofissionais, a qualquer custo e dizimando os legítimos interesses e méritos de terceiros, transformou-se em comportamento comum que, de tão repetido, é aceite como hábito normal. Aberrante mas que serve na perfeição a realização de ambições pessoais, a maioria das vezes infundadas ou sem o menor reconhecimento de quem, sem interesse a não ser o próprio, se empenhou na defesa de direitos básicos de trabalhadores, sejam eles chefes ou humildes subordinados de ocasião.
Tenho, infelizmente, experiências desse tipo que, no fundo, se consubstanciam em abjecta ingratidão.
Sem ser sempre adversa, a vida é muito abrangente na qualidade, ou falta dela, de quem ajudámos ou com quem trabalhámos. A carreira profissional não será propriamente sempre nojenta, mas, entre os que encontramos pela frente, sempre há quem, analisado após o passar dos anos, tenha a ousadia de ser repugnante, quer ética e quer moralmente.
Sem ser perfeito, e com os devidos defeitos, jamais alguém me pode acusar de ser indiferente a objectivos, interesses e direitos de quem, do ponto de vista hierárquico ou financeiro, dependeu dos meus limitados poderes.
Posso ufanar-me de nunca ter enveredado pelos caminhos da corrupção ou mesmo de influências espúrias. A propósito da Quadra de Natal que, mais uma vez, vivemos, tenho o orgulho de ter sempre recusado os presentes com que fornecedores interesseiros me pretenderam brindar.
Mas, tenho mais casos de que posso orgulhar-me. Proporcionei carreiras profissionais a quem, de mão vazias, apenas procurava um estágio, por mais modesta – e por vezes nula – que fosse a compensação.
Fui adulado, com elogios e beijos, por quem, legitimamente diga-se, reconheceu os meus esforços para garantir o pagamento de salários, em tempo devido.
Todavia, a vida é em parte das vezes madrasta. Se garantes emprego a um necessitado de trabalho e rendimento, judeu ou católico, a recompensa pode vir a ser o despedimento. Tudo isto é real e o viver, independentemente de crenças religiosas, transforma-se em muitas ocasiões em percursos complexos. Felizmente, para mim, jamais foram irresolúveis.
Voltando a Orwell, e compatibilizando-o com os percursos vitais a que estamos subordinados, cito a velha frase “há uns mais iguais do que outros”. Paradoxal e felizmente, sempre fui dos “outros”.
Este ‘post’, como é visível, não passa de um desabafo. Sorte para todas e todos para este Natal e para outros que se venham a seguir. Desejos de um agnóstico.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Mário Soares

Mário Soares
Vivi até aos vinte e nove anos em ditadura. Sob a asfixiante perseguição da PIDE. Condicionado por outras entidades e métodos autoritários. Por excesso de malvado requinte despótico, impuseram-me inflexíveis restrições à liberdade. Algumas, diga-se à distância, a roçar o ridículo. Um dos episódios estrambólicos por mim vivido relacionou-se com um livro, em papel-bíblia, comprado à socapa, como muitos outros, na velha – não a actual – Livraria Barata na Avenida de Roma. Tratava-se da obra poética completa de Frederico Garcia Llorca. Um “bufo”, vendo o livro sobre a minha mesa no Café do Império, perseguiu-me a mim e ao meu grupo. Junto ao mercado do Chile, escondemo-nos. Vimos o reles “bufo”, desorientado, à nossa procura. Acabou por desistir.
Todas estas histórias e passagens de vida demonstram, de facto, a impossibilidade de ser livre no tempo do Salazarismo severo e maldito. Porém, a estas histórias juntam-se outras próprias do país mais atrasado da Europa que eramos (excluídas as colónias), em termos de degradada vida humana. 
Lembro-me dos meus camaradas da primária, Escola 15 de Lisboa, que viviam na “Quinta dos Peixinhos” (onde hoje fica a Escola Patrício Prazeres). Víamo-los andrajosos, descalços, a tiritar de frio e fome, a caminho das aulas. Eu e outros, sem sofrer de idêntica carência, repartíamos com eles os lanches da manhã.
A idade foi avançando e a Guerra Colonial também. Tive amigos mortos em Angola. Em especial, lembro-me do Luís que, pelo relato de outro amigo, soube ter sido morto numa emboscada. Quantas vidas foram ceifadas, desta ou daquela maneira, na Guerra Colonial? As estatísticas dizem que mais de 10.000, mas não incluem os estropiados e muitos outros que, do ponto de vista psíquico e social, ficaram diminuídos para a vida.
Propositadamente descrito com pormenor, esteve foi o Portugal da minha infância, da minha adolescência e até parte adiantada da minha juventude. Terminou em 25 de Abril de 1974. Milhões pelo país inteiro, sobretudo no 1.º de Maio que se lhe seguiu daí a dias, coloriram as ruas das cidades e saudaram a chegada da Democracia.
Mário Soares foi dos políticos portugueses que compartilhou da euforia com o povo. Juntamente com Álvaro Cunhal. A despeito do meu interesse pela política, jamais me filiei em qualquer partido ou corrente partidária. Nunca fui militante ‘socialista’ ou ‘soarista’, nem ‘comunista’ ou ‘cunhalista’.
Todavia, e pela luta empreendida para o sucesso da democracia em Portugal, nesta hora difícil que Mário Soares vive aos 92 anos de vida, não posso, nem devo deixar de expressar a minha solidariedade à família e votos da recuperação possível ao homem e político que respeito. Como qualquer outro, cometeu erros, mas do desempenho da sua carreira, Portugal extraiu benefícios e o país progrediu – claro que, nos complexos tempos actuais de domínio dos neoliberais e da xenofobia, há regressões e crises que atingem o mundo e multiplicam a pobreza. Não há muitos anos ainda vi Mário Soares a protestar contra estas perversões no Mundo na Avenida da República. Lutou até ao fim!
Considero reles, canalha, infame, ignominioso e aviltante que certas vozes se levantem em insultos contra o último dos civis, dos pais veteranos da Democracia Portuguesa. Gente abjecta e ordinária, incapaz de respeitar um adversário político, ao menos em fase crítica de uma longa vida de luta.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A Dra. Teodora Cardoso descobriu a pólvora


A presidente do Conselho de Finanças Públicas sofre de incontinência verbal (e ainda não existem fraldas para este tipo de incontinentes).
Está sempre disponível para continuadas intervenções públicas prejudiciais ao País, e contrariado alarmismo por si lançado, e infundado, sobre o défice previsto para 2016, veio hoje a público, no cáustico 'Jornal de Negócios', afirmar:
"Seria extremamente difícil o país aguentar juros de 5%."
Claro que o montante da dívida pública portuguesa, desde há mais uma década, tem sido agravado. Tanto pelo governo anterior, a despeito do programa de reajustamento da 'troika', como pelo actual executivo. O risco de aumento de juros é real. No entanto, há outras causas externas
Entre o tempo de um e outro executivo, há transformações instrumentais e de mercado que são ignorados pela Dra. Teodora. Citemos:

1) Em termos exógenos de mercado, que obviamente são impossíveis de dominar por mecanismos internos, começamos pela promessa de Donald Trump de reduzir substancialmente a taxa sobre lucros das empresas (equivalente ao nosso IRC) se ter traduzido numa animação bolsista, mercado de acções em alta, em detrimento das taxas de obrigações de dívida pública. Perspectivam-se para estas últimas naturais aumentos de taxas de juro e fugas de investidores.
2) A redução de compra de activos anunciada pelo BCE, Mário Draghi, é outro factor adverso para o investimento em obrigações de dívida pública.
3) A prestigiada Bloomberg é a própria a reconhecer que as obrigações de dívida alemã tendem definitivamente a deixar de ser transaccionadas a taxas de juro negativas - veja-se este artigo e gráfico da referida Bloomberg.

Há, pois, uma série de factores de mercado, incontroláveis individualmente por qualquer país,  ainda para mais de dimensão macroeconómica reduzida, caso de Portugal. 
Todavia, o fenómeno, embora com maior enfoque nos mais frágeis, atinge sobretudo as economias da UE. Itália é das economias que está a sentir uma crise agudizada; as taxas de obrigações superam os 2% e a recapitalização do Banco 'Monte Paschi' em 5 mil milhões de euros são sinais das dificuldades com que os italianos se confrontam.
As explicações para os aumentos de juros de dívida pública não encontram eco no estilo interventivo gratuito da presidente do CFP, mas em causas diversas e complexas a nível global. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Do ‘Observador’ ao parecer do FMI sobre Portugal

O ‘Observador’, voz-activa da direita neoliberal, hoje, sentiu de certeza uma profunda decepção, ao ser compelido a reconhecer expressamente o "Fundo [FMI] está optimista, até que o Governo, para o crescimento […].
Tantas são as vezes e o modo que, aqui no Facebook, tenho lido simples e anacronicamente eufóricas citações e referências a tudo que, no entender dos subscritores fieis ao ‘Observador’, de extrema dureza em relação à responsabilidade do Governo de António Costa, que facilmente imagino a mágoa de certos desses subscritores. A maioria coloca os interesses partidários acima do interesse nacional e do País, o que me chega a ofender – vítima de visões mesquinhas e próprias de quem fica limitado ou toldado pela óptica estreita, e necessariamente estúpida, de quem é incapaz de secundarizar os objectivos partidários ao interesse da maioria da população portuguesa.
Sem ser necessário alongar-me em justificações, entendo que a transcrição de parte mais importante do texto do FMI é suficiente e suficiente para esclarecimeos.
Perspectivas de curto prazo de Portugal melhoraram, principalmente na parte de uma aceleração das exportações no terceiro trimestre de 2016. Este resultado de crescimento maior do que o esperado seguidas relativamente à moderada actividade os dois trimestres anteriores. No entanto, uma continuação do forte crescimento que é amplo seria necessário para concluir que uma mudança sustentada para uma rápida recuperação que está em curso. Para 2016, os orçamentais e alvos das autoridades estão ao seu alcance, e a conta corrente deverá para manter-se em um pequeno excedente. No contexto da confiança do consumidor, melhorou, os riscos de curto prazo para as perspectivas macroeconómicas são globalmente equilibrados. As perspectivas de médio prazo, no entanto, continuam a ser largamente inalteradas e são vulneráveia a choques, em função do elevado nível da dívida pública e privada, continuando a banca com pontos fracos do sector e de persistente rigidez estrutural. Isto requer esforços ambiciosos melhorar a resiliência do sector financeiro, garantir a consolidação orçamental durável e aumentar o potencial de crescimento da economia.

O FMI jamais se dá por satisfeito. Sem desprezar as observações em relação à evolução futura – a dívida externa e interna são os graves problemas - resta-nos a pergunta: “O país sob o poder de Passos Coelho e Cristas estaria melhor? A meu ver, responderia racional e incondicionalmente: NÃO!.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A Obama o que é de Obama

Qual será o futuro próximo da presidência dos E.U.A. Uns cidadãos do Ohio, do Arizona, do Arkansas, do Texas e da Florida acreditam que esse futuro será risonho para os estado-unidenses e para o Mundo. Eu creio que será lacrimoso. Vamos esperar, ver e concluir. Depois se saberá da verdade, sempre que esta não seja mitigada por informação deturpada e a estratégia da propaganda.
O reputado ‘The New York Times’, na edição de hoje, publica em título:
O Presidente Obama Está a Entregar uma Economia Forte ao Seu Sucessor
O jornal justifica este desempenho económico com a continuidade da criação de empregos nos E.U.A. (+ 178.000 novos postos de trabalhos no último mês); queda da taxa de desemprego para 4,6% em Novembro.
Lá como cá, existem sempre quem, frustrado, desvalorize os dados económicos. Um tal Gus Fauther argumenta que a queda do desemprego “deriva mais da queda da força de trabalho do que do aumento do emprego interno”.
A economia presta-se a isto. É um mundo de teorias e especulações, muitas sem fundamento científico. Vamos aguardar aquilo que Gus e outros especialistas especulativos dirão dos resultados do modelo prometido por Donald Trump aos norte-americanos. Umas vezes assim, outras vezes assado.
Do que não tenho dúvidas é que toda a evolução descendente do desemprego é mérito da política de Obama e, ultimamente, de Janet Yellen, presidente da FED.
Mas, por ora e como presidente, ninguém pode negar a Obama esse mérito.
Entretanto, salta-me uma preocupação. Uma vez que as taxas de juro da FED subam, que sucederá à política monetária e resultados do BCE na Europa? É natural que os títulos de dívida pública de Portugal e de outros países europeus, ditos periféricos, venham a agravar-se. Será que vamos passar por dificuldades económicas graves? Se Passos Coelho se agarra a este argumento disparatará horas a fio em coro com Maria Luz de Albuquerque, tendo como som de fundo a Cristas a cacarejar.
Aguardemos…