O ‘poder’ e as manobras descritas por Orwell a propósito do Estalinismo denunciam as astúcias de acesso e exercício de mandar.
Conquistar o poder e satisfazer ambições socioprofissionais, a qualquer custo
e dizimando os legítimos interesses e méritos de terceiros, transformou-se em
comportamento comum que, de tão repetido, é aceite como hábito normal.
Aberrante mas que serve na perfeição a realização de ambições pessoais, a
maioria das vezes infundadas ou sem o menor reconhecimento de quem, sem
interesse a não ser o próprio, se empenhou na defesa de direitos básicos de trabalhadores,
sejam eles chefes ou humildes subordinados de ocasião.
Tenho, infelizmente, experiências desse tipo que, no fundo, se consubstanciam em
abjecta ingratidão.
Sem ser sempre adversa, a vida é muito abrangente na qualidade, ou falta
dela, de quem ajudámos ou com quem trabalhámos. A carreira profissional não será propriamente
sempre nojenta, mas, entre os que encontramos pela frente, sempre há quem, analisado
após o passar dos anos, tenha a ousadia de ser repugnante, quer ética e quer moralmente.
Sem ser perfeito, e com os devidos defeitos, jamais alguém me pode acusar
de ser indiferente a objectivos, interesses e direitos de quem, do ponto de
vista hierárquico ou financeiro, dependeu dos meus limitados poderes.
Posso ufanar-me de nunca ter enveredado pelos caminhos da corrupção ou
mesmo de influências espúrias. A propósito da Quadra de Natal que, mais uma
vez, vivemos, tenho o orgulho de ter sempre recusado os presentes com que
fornecedores interesseiros me pretenderam brindar.
Mas, tenho mais casos de que posso orgulhar-me. Proporcionei carreiras profissionais
a quem, de mão vazias, apenas procurava um estágio, por mais modesta – e por
vezes nula – que fosse a compensação.
Fui adulado, com elogios e beijos, por quem, legitimamente diga-se,
reconheceu os meus esforços para garantir o pagamento de salários, em tempo
devido.
Todavia, a vida é em parte das vezes madrasta. Se garantes emprego a um
necessitado de trabalho e rendimento, judeu ou católico, a recompensa pode vir
a ser o despedimento. Tudo isto é real e o viver, independentemente de crenças
religiosas, transforma-se em muitas ocasiões em percursos complexos.
Felizmente, para mim, jamais foram irresolúveis.
Voltando a Orwell, e compatibilizando-o com os percursos vitais a que
estamos subordinados, cito a velha frase “há uns mais iguais do que outros”.
Paradoxal e felizmente, sempre fui dos “outros”.
Este ‘post’, como é visível, não passa de um desabafo. Sorte para todas e
todos para este Natal e para outros que se venham a seguir. Desejos de um
agnóstico.
Sem comentários:
Enviar um comentário