quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O Natal e o Ano Novo

Menino refugiado e morto nas praias da Turquia
Rejeição. Reacção de velhice? Responderia afirmativamente, se, para mim, estes rituais de Natal e Novo Ano não fossem acontecimentos penosos e hipócritas desde criança. 
Cada criança tem as condições de vida com que vem ao mundo. Nem todos nascemos e começámos a gatinhar sob o consolo  de vida fácil e feliz dos pais.
Faço parte do ‘baby boom’ após a II Guerra Mundial. Tempos difíceis na Europa, agravados em Portugal por um nefasto Salazarismo que, de tão nacionalista e fascista, renunciou o ‘Plano Marshall’ e a qualquer iniciativa a fim de integrar e desenvolver o País em termos socioeconómicos dentro da dinâmica europeia.
O meu Natal de infância, como o de milhares de crianças (ou milhões?) portuguesas, reduziu-se a uma modesta ceia, em cenários de brinquedos de lata. Em noites vividas sob a crueldade do frio e da tristeza, mascaradas de falsa euforia e vestidas de roupas e agasalhos que nos abrigavam desse frio em casas antigas, sem caloríferos e muito menos ar condicionado.
As crianças de Aleppo, a viver profundas desgraças que a Rússia, o Ocidente e o negócio de armas não dispensa – o Reino Unido há dias era assinalado como o principal fornecedor – sofrem (e muitas morrem) atrocidades e desprezo repugnáveis, das quais ninguém tem coragem de descrever e acusar com precisão os responsáveis, quanto mais combater com empenho.
Quando este ano, e em mero cumprimento de ritual repetido, mais do que em anos anteriores, a alegria de distribuir prendas e brinquedos aos meus netos tomar-se-á muito mais mitigada pela tristeza e não passará de uma encenação de actos que, no fundo, não sinto.
Eles, como outros filhos e netos, não têm a menor das culpas. Mas mulheres e homens influentes na Europa, de Schäuble a Hollande, de Dijsselboem a Merkel, de Marine Le Pen a Wilders, de Rajoy a Theresa May e muitos mais da Comissão e do Conselho Europeu, deveriam ter um Natal com fome e um 2017 cheio de privações. Assim, talvez sentissem a dureza da vida de desempregados, precários de trabalho e outros desvalidos que a profunda desigualdade de rendimentos aprofunda. Bem como as crianças dessas famílias.
O estado a que o mundo chegou, ilustrado pela fotografia deste ‘post’, deixa-me uma tristeza indescritível e apenas uma palavra de enorme estima e admiração pelo Papa Francisco, como homem e líder da ICAR. Tão célere não terá outro. No entanto, ele pouco pode fazer, a não ser denunciar tamanha barbaridade. E os obstáculos começam nesse antro de pedófilos e corruptos que é o Vaticano da IGOR. 
Por último, e sem hipocrisia, resta-me desejar Bom Natal e um Novo Ano Feliz a todos os que ainda acreditam, o que não é o meu caso.


2 comentários:

  1. Partilho na íntegra este texto, Carlos Fonseca. Já que não podemos materializar a nossa solidariedade no campo da guerra, façamos ouvir a nossa voz e denunciemos sem medos as hipocrisias, as barbaridades, o horror e o caos desumano em que este planeta se está a transformar.

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  2. Sinto uma revolta e uma dor profundas. Sinto ainda a impotência de nada poder fazer fisicamente por um mundo, em acelerada degradação, em que vivemos no Século XXI.A falta de humanismo é materializada através de crimes contra seres humanos, em especial crianças e mulheres. É impossível calar a minha voz contra tanta barbaridade, patrocinada em parte pelo Ocidente que, na busca do petróleo e do poder geoestratégico, lançou a 'Primavera Árabe', hipocritamente, em nome da defesa dos direitos humanos. Começaram no Iraque, depois do percurso do Magreb e do Egipto, planeavam conquistar o controlo da Síria que estava e está sob outra monstruosa máquina de guerra que se chama Rússia. Se a isto, juntarmos o fanatismo islâmico e o hábil distanciamento de Israel, temos o 'complot' completo.

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