segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A Coimbra Editora moribunda?

A pergunta é uma inquietação. Natural, julgo eu, para quem vive e se regozija com as características históricas dos ícones urbanos das cidades portuguesas.
Direito jamais foi o meu curso. Sou economista, licenciado (ISCTE) e mestrado (UCP). Nos cursos frequentados, era, porém, exigida formação em certas áreas jurídicas. Eu, e todos os meus camaradas de estudo, tivemos de começar pela ‘Introdução ao Estudo do Direito’, do Professor Castro Mendes (FDL) e prosseguir com ‘Direito Económico’, ‘Direito Fiscal’ e ‘Direito do Trabalho’; este o mais desprezado por perversos professores da direita.
Por força da via profissional, senti-me obrigado a abordar outros ramos de direito. A livraria da Coimbra Editora, na Rua Nova do Almada, foi sempre o meu local regular de visita de leitor compulsivo, por culpa própria ou exigência de saberes que as empresas onde trabalhei me impunham.
È bastante consternado que hoje, dia 21 Novembro de 2016, soube da incompreensível falta de decisão sobre o 2.º PER (Processo Especial de Revitalização) a que a Coimbra Editora recorreu. O caso torna-se ainda mais inconcebível, uma vez que, a 22 de Janeiro de 2016, o ‘Jornal de Negócios’ anunciava o seguinte:


Os 60 dias já lá vão e há muito. A maldita ‘suspense’ permanece.
Em 1920, se lá chegar, a Coimbra Editora comemorará 100 anos de existência. Será, de facto, frustrante vir a saber-se que, afinal, a produtora de vasta obra jurídica está moribunda e não escapará à falência. 
Coimbra e Lisboa, e outras cidades por onde ainda circulam os restos de obras de direito de grande qualidade, se a desgraça se confirmar, ficam despojadas de um centro de difusão de cultura jurídica de enorme valia – sem ponta de comunhão ideológica, cito apenas os 5 volumes de Pires de Lima e Antunes Varela (Código Civil Anotado) que, no conjunto, são impossíveis de adquirir no todo. É uma obra ímpar e está esgotada, a não ser que aqui  e acolá nos contentemos com um volume solto e meio-perdido.
O ‘Chiado’, com a 'Bertrand' como segunda livraria mais antiga do Mundo (a primeira é em Tóquio) e com a recuperada ‘Livraria Sá da Costa’ fica mais pobre se a Coimbra, à semelhança da Livraria Portugal, desaparecer.
Todavia, é preciso dizê-lo: o ‘Chiado’ naturalmente não se queixa. Quem fica triste são aqueles que adorariam ver prolongado no tempo lojas tipicamente nacionais, que vão dando origem à Zara, à Benetton, à Massimo Dutti, à Bershka e a outras que vão transformando a parte nobre da nossa cidade em espaço de ‘Feira da Ladra’ da era pós-moderna. Estabelecimentos de trapos e trapinhos.
Apenas para terminar, e com a devida relatividade, o encerramento da Coimbra causaria igual desgosto ao que senti quando me apercebi da transformação da ‘Colombo’ e do ‘Café Roma’ em restaurantes McDonald’s – fenómenos da gentrificação equivalentes aos que transformam águas-furtadas de Alfama em mansardas de aluguer temporário, para turistas que desvirtuam e perturbam a vida bairrista.
É o negócio.


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