quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Reestruturação e Emprego na Banca

O sistema financeiro internacional, com o impulso inicial do Lehman Brothers, registou em 2008 uma crise que se deflagrou e propagou pela Europa. Esta crise ainda perdura e, regra geral, tem a característica da situação da banca ser complexa. Com efeito, vários bancos europeus enfrentam dificuldades e recorrem a processos de reestruturação. Visam o objectivo de, no fim dos ajustamentos, recuperar os resultados de exploração, a liquidez e os rácios normais no sector.
O despedimento de contingentes de milhares de trabalhadores é a medida estigmatizada e geograficamente transversal nas reestruturações efectuadas, em curso ou projectadas para a banca. Citemos apenas dois casos:
·         o Deutsche Bank, maior banco alemão, em Outubro de 2015, projectava uma reestruturação profunda com 35.000 despedimentos;
·         o inglês Lloyd’s Bank, dirigido pelo nosso compatriota Horta Osório, há um ano lançou um programa de despedimentos de 9 mil trabalhadores, os quais se somam aos 30.000 despedidos desde 2008 – há dias, corria uma notícia de que Horta Osório se prepara para afastar mais umas centenas de trabalhadores do Lloyd’s.
Então e por cá? Também as reestruturações têm a fatal medida dos despedimentos colectivos, associados a encerramentos de balcões ou da própria actividade, caso do BPP. Sem contar ainda com os desempregados produzidos pela aquisição luso-angolana do BPN, banco que até deveria ser um símbolo de orgulho nacional, uma vez que o primeiro magistrado do País, Sr. Cavaco, e filha, ao que parece episódica mas formalmente, foram accionistas daquela instituição financeira.
Despejar gente no desemprego, neste caso, equivale à forma descontraída própria do motorista da camioneta do lixo, de cigarro na boca e com o automatismo de esvaziamento activado, a encher a lixeira. Esta é a melhor imagem que me ocorre para caracterizar mais duas remessas de bancários para o desemprego ou a reforma, em muitos casos antecipada e penalizadora. Uma está em curso no Banif, presidido pelo devoto socialista Luís Amado cuja filiação no CDS não seria exótica, e outra realizar-se-á nessa grande obra de Carlos Costa, designada Novo Banco, dirigido por Stock da Cunha, um amigo e discípulo de Horta Osório – o mundo da banca, a nível de topo, é segmento social pouco populoso e muito privilegiado.
Este país, empobrecido intencional e programadamente nos últimos quatro (4) anos, continua a ter de suportar um contínuo fluxo de desemprego desde a banca, embora sejam atribuídos ao sector benefícios fiscais, moral e socialmente intoleráveis tendo em conta o baixo empenho social e as facturas de custos de ajustamento passadas aos contribuintes.
O governo de António Costa, até justificado pela necessidade de compensar agravamentos da despesa pública de algumas medidas a aplicar a partir de 2016, deverá ser muito menos generoso nas políticas dos benefícios fiscais com os grandes grupos económicos, nomeadamente a banca. Os mais frágeis devem ter prioridade de protecção nas políticas macroeconómicas governativas. Como é óbvio!

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