quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O desemprego, Portas e o 'Público'

Portas canta 'Avante Camarada'
O desemprego, como calamidade social, é das adversidades sociais que maior mágoa me causa. Abordarei os dados de Agosto-2015 no final do texto.
Por carência de tempo disponível, tive de adiar essa a análise de dados  do desemprego publicados anteontem pelo INE. O adiamento teve, porém, a vantagem de me impelir para a leitura de um comentário sobre a seguinte afirmação de Paulo Portas:
"Relativamente ao mês [anterior], é mais uma décima, o que, com alguma frequência, sucede em Agosto."
No 'Público', Raquel Martins desmistifica a enganadora afirmação de Portas, ao revelar que, em 18 anos, a taxa de desemprego de Agosto em relação a Julho desceu em dez desses anos, se manteve em um ano (2007) e subiu em sete. 
Portas, que é culto, e um supremo jogador da palavra e da demagogia, não enjeita recorrer a falsos argumentos, muito mais, em momento eleitoral, face a dados oficiais desfavoráveis à coligação PSD+CDS do governo. 
Da peça de Raquel Martins, a única parte, provocadora de alguma perplexidade, consiste na dramática inquietação manifestada pela jornalista, quando escreve: 
"Por isso, se o vice-primeiro-ministro queria dizer que as subidas de desemprego em Agosto são mais frequentes do que as as descidas, está errado. Se a ideia era afirmar que o fenómeno não é raro, então está certo."
Frequente e não ser raro são conceitos distintos. Parece-me que a jornalista, para suavizar o desmentido através da realidade demonstrada ao longo do tempo, contrária a Portas, por razão ou razões que só ela conhece, quis almofadar a crueldade dos números adversos à proclamação de Portas. A isto, e é exactamente o que se infere do fecho do comentário, chama-se falta de isenção e ética na comunicação social.
A finalizar,  sublinhamos que os números do INE, provisórios, traduzem a subida da taxa de desemprego para 12,4%, um agravamento de 0,1% em relação ao mês anterior, equivalente a  + 4,8 mil desempregados e a um total de 633.000 desempregados em Agosto de 2015.
Quanto ao emprego, tema que apenas foi tratado por parte ínfima da comunicação social, os números do INE foram ainda mais negativos: menos 0,8% de pessoas empregadas; ou seja, num mês deixaram o mercado de trabalho 34.200 pessoas e o total da população empregada caiu para 4.462,2 pessoas.
A disparidade entre os dois números é enorme. Saíram do mercado de trabalho mais 7 vezes o número de pessoas que ingressaram no desemprego. Tem de haver uma explicação oficial, clara e completa, para este fenómeno. Jamais acreditarei que se tenham aposentado e reformado 29.400 pessoas no espaço de um mês. 
Com este género de sucessos sócio-económicos da legislatura em fim de mandato da PAF, o País, e em especial a sustentabilidade da Segurança Social, ficam ainda mais ameaçados. Sobretudo, se a direita de Coelho e Portas continuar a governar no modelo neoliberal, tecnocrático e desumano em que se inspira.
    

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