quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A necessidade de solidez e realismo na coligação à esquerda

A direita europeia já começou a expelir vómitos para amedrontar os portugueses:
“Em conferência de imprensa em Madrid, onde esteve em peso o PPE (Partido Parlamentar Europeu), o presidente deste grupo conservador, o francês Joseph Daul, amedronta a opinião pública portuguesa com a expectativa de que, consumada a possível coligação à esquerda, a situação em Portugal terá contornos semelhantes à Grécia.”
Paulo Rangel, que também está no evento de apoio desesperado a Mariano Rajoy e ao seu PP, em afirmações integradas na voracidade da procura de popularidade, é um dos candidatos a presidente do PPE, também vai dizendo algumas coisas contra a hipotética coligação do PS+BE+PCP (hipotética, assim a considero por enquanto).
Um outro cavalheiro, secretário-geral do PPE e Antonio Lopez-Isturiz de nome, também entrou no jogo de apavorar os portugueses, devido aos efeitos do governo de esquerda sobre os investidores que, segundo o propagandista, são quem nos garante o emprego, a casa e o pão.
Todos estes tons discursivos são, em antes de tudo, estúpidos. Uma parte significativa das pessoas está ciente da ‘revanche’ que Portugal esperará, com juros a subir e outras ameaças a vários domínios da nossa soberania; fenómeno este que, de resto, já sucede com a conivência traiçoeira do governo PSD+CDS.
Por outro lado, os mais atentos, devem atender à prelecção de Varoufakis em Coimbra. Os discursos intimidatórios dos neoconservadores do PPE são uma espécie de certificado de autenticação da comunicação do Professor de Economia grego, na cidade dos estudantes.
Oxalá a esquerda se entenda! É meu desejo profundo. Todavia, devido aos compromissos mais apertados com as normas e tratados europeus, ou o BE e PCP aceitam que, efectivamente tomando em conta o sucedido com o Syriza, o PS tem de gerir com pinças o controlo orçamental; ou então, é preferível nem embarcar em aventuras do tipo do súbito aumento do salário mínimo nacional de 18,81%. Teremos, neste tipo de medidas, uma alteração bastante profunda e susceptível de ameaçar a sobrevivência de PME’s e, consequentemente, de multiplicar o desemprego.


António Costa está emparedado entre dois muros preparados para o derrubar: de um lado, a Europa, dominada pela direita revanchista, incapaz de lhe aceitar qualquer falha de regras do Pacto de Estabilidade Orçamental e do Tratado também dito Orçamental; do outro, uma esquerda radical, e neste aspecto temos mais o comportamento do PCP, susceptível de derrubar um governo PS que, eventualmente, venha a apoiar. E os senhores da coligação PSD+CDS já se comprometeram com cortes de 600 milhões de euros que a amanuense Albuquerque, por mais que fale, recusa dar a explicação devida aos cidadãos.
Tudo isto e muito mais são motivos de reflexão para António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa; em especial, para o primeiro. A ‘Dívida Pública Total’, segundo o IGCP, estava avaliada em 230.641 milhões de euros, em Agosto de 2015; ou seja, registou um aumento de 2,75% (+ 6.164 milhões de euros) em relação aos 224.477 considerados pelo Banco de Portugal para a mesma dívida em 31-12-2014.

  1. Umas últimas observações:  Com base no comunicado n.º 186/2015 do Eurostat datado de hoje, 31-10-2015, o segundo maior défice orçamental na União Europeia foi averbado por Portugal (- 7,2%) – o Chipre ficou no 1.º lugar com – 8,9%. Como se vê, dizia a Albuquerque, o agravamento devido ao Novo Banco era meramente estatístico, mas lá subsistirá. Quando houver o retorno, daqui a não sei quantos anos, então é que as contas se fecham.  
  2.   O mesmo comunicado diz que estamos em terceiro lugar entre os países de maiores dívidas, por esta ordem: Grécia (178,6%); Itália (132,3%) e Portugal (130,2%).
Como dizem os brasileiros, “a barra está pesada” e Costa terá de saber manusear esse imenso peso, com os outros o ajudarem. Solidez e realismo de todos os parceiros da prometida coligação à esquerda é o que se exige.

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