quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A vida e o tempo

Dos afazeres ou da falta deles; dos subsídios azerados, ou quase, a elevados ganhos anti-éticos; dos navios à superfície aos submersos submarinos; de insonso ao salgado; da fome, sentida e sofrida, ao obsceno arroto boçal do político ou do empresário do vinho a martelo; da solidariedade à indiferença perante quem se limita a padecer; do ouro ao latão; do brilhante à chispa do seixo abandonado; da árvore moribunda à erva daninha que teima em crescer. De uma ponta a outra destes e de outros limites, assisto desgostoso aos dias da vida que vou desfolhando. Folhas de livro satânico.
Ouço, num ruído imperceptível sem ser mudo, os aviões que partem de Lisboa para Caimão, destino de milhões sugados ao mexilhão atacado de Neoplasia Hemo cítica, doença fatal dos bivalves condenados a morrer aos poucos; em múltiplas e contínuas dores e sofrimentos. Olho para Belém e imagino, lá dentro, o protector dessa gente imunda, o homem a quem o outro chamou palhaço. Eu não o chamaria assim. É uma ofensa para quem, em criança e agora, teve e tem a inteligência de me fazer sorrir, às vezes gargalhar. Se circulo pelo IC 19, vejo Massamá ao largo. Existem ali provavelmente muitos, mas apenas conheço um; sinto e sofro, como centenas de milhares, a trapaça dos seus conhecidos passos.
Sei bem que, neste perverso mundo, onde, entre muitos exemplos universais possíveis, a Coca-Cola se apropria da água de localidades indianas – alguém morrerá à sede – e paga 1,37 euro(s) por um dia de trabalho de doze horas aos escravos que emprega (?) na era da globalização, sei bem, sim, que no meio dos explorados nacionais e dos mártires do criminoso mundo global, sou certamente um privilegiado.
Porém, asseguro também ser um indignado, um revoltado, de alma angustiada. Capaz de… - omito a intenção, não sei se por cobardia ou se para evitar uma dureza que mesmo os que de mim gostam reprovariam. Assevero que não temo os D’sDT, o SIS e todos esses bandalhos, alguns declarados judicialmente corruptos. Um bandalho é um ser desprezível. Resta.me trata-lo como pulha. É uma cínica e contraditória suavidade, sei bem.
A vida, do cidadão honesto e comum, de fotografia melhor ou pior focada, é capturada neste cenário. É também a minha vida e as razões de falta de tempo para me dedicar ao meu blogue. Ao contrário do sabichão Marcelo e do videirinho Marques Mendes, não tenho tempo de antena.
À imagem do samba brasileiro, diria: “sou pai único, tenho minha casa para olhar”. E porque assim é, raramente tenho tempo para escrever e publicar ‘postes’, para me libertar deste estado de alma.
Todavia, nesta altura, e embora agnóstico, não poderia deixar de escrever estas palavrinhas para dizer que, deglutidas as broas de milho e passado o Natal, 2015 se for igual ao nefasto 2014, que agora termina, será um golpe de sorte. É uma raspadinha que não compro.
Saudações aos que me lêem!

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