terça-feira, 28 de outubro de 2014

Um cientista de mérito e péssimo ministro

O ‘Público’, sob o titulo ‘O Ministro no seu Labirinto’, divulga em pormenor a vida de Nuno Crato. Quase desde os tempos de berço. Trata-se praticamente de uma biografia do matemático, estatístico e astrónomo, e também do político, que Pedro Passos Coelho, o PM das calinadas e ofensas reles, escolheu para Ministro da Educação.
Diga-se que, no acto do anúncio da formação do governo, me pareceu uma escolha acertada. Usufruía do prestígio de professor dos quadros do ISEG-Instituto Superior de Economia e Gestão. Os livros e escritos sobre o ‘eduquês’, pelas fundamentações e ideias expostas, reforçaram a minha expectativa: num governo chefiado e composto por um PM e uma fracção significativa de ministros e secretários de Estado sem qualidade; ao menos, o ensino ficaria em mãos competentes, pensava eu. O episódio Crato versus Relvas, culminado com o afastamento deste último, ratificou a minha opinião.
O homem, afinal, desiludiu-me profundamente. A mim e creio que à estrondosa maioria dos cidadãos, onde não se incluem, é claro, o José Manuel Fernandes e a Helena Matos. Estes, nas tradições da cultura religiosa baiana, crêem profundamente que Crato foi alvo de maldição de candomblé. Omolú, o mais temível dos orixás, executou a imprecação: “Não te deixo ser bom ministro e tens de ficar até ao fim do mandato a sofrer a humilhação da incompetência.”
Orixás à parte, quem tenha um pedaço de bom senso, residual que seja, é natural que fique perplexo com a continuidade de Nuno Crato como ministro. O pedido de demissão irrevogável – sim, desta feita mesmo irrevogável – teria sido, desde há muito, o desfecho mais lógico. Assim, entendesse ele que o Ministro é o único responsável por tudo quanto ocorre nas políticas essenciais do ministério que tutela. Pode delegar funções, mas jamais se furta da responsabilidade de quem lidera.
E mais a mais, todo este arrastado processo de colocação de professores, nunca visto em tempos anteriores, prossegue, sem que Crato revele uma ponta de pudor. Ainda estão por atribuir 300 horários nas escolas, segundo o ‘Expresso’. Todavia, nem há a demissão do ministro nem haverá uma forma mágica de eliminar os efeitos nocivos para milhares de alunos. Irremediavelmente terão um ano lectivo decepado e de baixíssimo proveito na aquisição de conhecimentos. Porventura, em muitos casos, com repercussões nefastas no futuro. Sem aulas, o ensino está paralisado. Quem é o responsável? Crato obviamente, embora as culpas se possam distribuir por elementos da equipa por si dirigida.

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