quinta-feira, 25 de junho de 2015

Grécia: tradução de artigo de Paul Krugman no NYT


Tenho ficado bastante tranquilo sobre a Grécia, não querendo gritar 'Grexit' em teatro lotado. Mas considerados os relatórios das negociações em Bruxelas, algo deve ser dito — nomeadamente, o que fazem os credores e em particular o FMI, que pensam eles que estão a fazer?
Isto vai ser uma negociação sobre metas para o saldo positivo primário e em seguida sobre o alívio da dívida que encabeça intermináveis crises futuras. E o governo grego concordou com alvos de excedentes na verdade bastante elevados, especialmente tendo em conta o facto de que o orçamento teria em enorme ‘superavit’ primário, se a economia não estivesse tão deprimida. Mas os credores continuam a rejeitar propostas gregas alegando que se baseiam muito em impostos e não o suficiente sobre cortes de despesas. Então ainda estamos no capítulo de ditar a política interna.
A suposta razão para a rejeição de uma resposta baseada nos impostos é que esta prejudicará o crescimento. A reacção óbvia é: vocês estão brincar connosco? As pessoas que, de forma clara e absoluta, não conseguiram ver o dano que a austeridade causaria — ver o gráfico, que compara as projecções em 2010 face à realidade — estão agora a dar um sermão a outros a respeito de crescimento? Além disso, as preocupações de crescimento estão todas do lado da oferta, numa economia a operar, seguramente, pelo menos 20% abaixo da capacidade de funcionamento.
Fala-se com as pessoas do FMI e eles argumentarão sobre a impossibilidade de lidar com o Syriza, manifestando o seu aborrecimento com arrogância e assim por diante. Mas não estamos aqui na escola secundária. E agora são os credores, muito mais do que os gregos, que continuam a mudar a linha de chegada. Então o que está a acontecer? O objectivo é quebrar o Syriza? É forçar a Grécia a um padrão presumivelmente desastroso, para encorajar os outros?
Neste ponto, é hora de parar de falar acerca de "Graccident"; se o 'Grexit' acontecer será porque os credores, ou pelo menos o FMI, queria que acontecesse.


4 comentários:

  1. Com um desvio tão imponente, não podemos estar a falar de um mero erro....

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  2. Caro João Mestre, é um erro grave e profundo. O plano de austeridade, segundo a receita sob comando do FMI, produziu precisamente o inverso do resultado que enunciava. Porém, existe neste caso um acto criminoso, ao insistir na aplicação de políticas cujo resultado está à vista. Talvez o objectivo seja mesmo expulsar o Syriza do poder.

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  3. Onde o FMI intervém, os países ficam de rastos. A 'receita' é conhecida. Para quê insistir?! A propósito: a mando de quem é que o FMI opera?

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    1. A mando da Europa, que usufrui do direito do exercício exclusivo do cargo de Direcção-Geral por um europeu - os americanos têm direito equivalente no Banco Mundial - mas também sob as ordens dos EUA. Não é por mero acaso que a sede do FMI foi instalada em Washington.

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