sexta-feira, 8 de março de 2013

O truca-truca de Natália Correia

Natália Correia

São José Lapa, conciliando as comemorações do Dia Internacional da Mulher no Parlamento com  homenagem à saudosa Natália Correia, declamou o célebre poema 'Truca-truca'.  
O episódio a que o poema se refere ocorreu em 1982, no debate sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (aborto, dito de forma mais prosaica). Um então obscuro deputado do CDS, João Morgado, adversário do projecto-lei do IVG e pai de um único filho, defendeu que "o acto sexual é para fazer filhos".
Com esta frase, o cretino deputado, caiu sem redes nem outros amparos nas mãos da criatividade e espontaneidade de Natália Correia. Sem delongas, e muito menos sem recurso a tecnologias, a poetisa puxou da esferográfica e de uma folha de papel para escrever de rajada o poema 'Truca-truca' ou 'Ficou capado o Morgado', a seguir reproduzido:

“Já que o coito, diz Morgado,
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca,
sendo só pai de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! – uma vez.
E se a função faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”

A actriz São José Lapa prestou hoje, na AR, oportuna homenagem às mulheres, e a Natália Correia, quebrando o cinzentismo e estigmatizando puritanas deputadas, das leais falsas às desleais de dissimulada de aparente pureza. Morgados e outros amaneirados, é coisa que por lá também não falta.

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